A Revolução BIM no setor da Construção
#Àconversacom Francisco Coutinho / Seveme
Na vanguarda da indústria de fachadas de alumínio e estruturas metálicas, a Seveme é uma empresa com um notável histórico de projetos globais, que procura no seu dia-a-dia ajudar a redefinir os padrões de qualidade em toda a indústria da construção. Hoje, estamos #àconversacom Francisco Coutinho, Coordenador Comercial da Seveme, para nos falar sobre a revolução BIM no setor da construção e de que forma é que toda a indústria pode fazer um melhor uso da tecnologia atualmente disponível.
Qual o projeto mais complexo e desafiante que já desenvolveram?
Temos enfrentado uma série de projetos bastante desafiantes em todo o mundo, cada um com as suas características distintas. Um exemplo notável é o Museu da Imagem e do Som no Brasil, que desenvolvemos já em 2013. Com uma conceção toda desenvolvida em 3D, várias intersecções entre fachadas de vidro e estruturas metálicas, e a pressão de estar a milhares de quilómetros de distância, o desafio foi enorme e complexo. O uso da Modelação de Informação da Construção (BIM / Building Information Modeling) desempenhou um papel crucial, que nos permitiu avançar significativamente na integração BIM e melhorar a coordenação entre as partes envolvidas.
Também tivemos desafios semelhantes noutros países. Na Argélia, enfrentámos o desafio da dimensão e complexidade, com um edifício de 24 pisos com toda a estrutura metálica e malha exterior em perfis de alumínio extrudido desenvolvidos pela Seveme. Foi uma obra que durou cerca de dois anos, sendo que todo o processo, desde o desenvolvimento até à produção, foi uma tarefa monumental e desafiadora – por exemplo, todo o dimensionamento do perfil da fachada, pelas suas especificidades, teve de ser ensaiado num túnel de vento em Londres para ser se funcionava. E funcionou!
De que forma a utilizam a tecnologia no vosso dia-a-dia, e que vantagens traz?
O BIM é uma ferramenta fundamental nas nossas operações. Na Seveme utilizamos o Tekla, um software de modelação e preparação. Utilizamo-lo em várias fases do projeto, incluindo planeamento e modelação. Posteriormente o software exporta tudo para produção e montagem. No caso da obra que estamos a realizar com a Beelt, foi feito um levantamento prévio com nuvem de pontos, por laserscan, que foi importado diretamente para o nosso software. Desta forma, estamos a trabalhar ainda mais no “real”, aumentando o rigor do output final.
Estes ganhos não se cingem apenas ao nosso trabalho. Quando utilizada entres as diversas equipas e empreitadas, a tecnologia permite-nos criar modelos digitais detalhados que identificam e resolvem problemas de design antes da produção, melhorando a colaboração entre todos e reduzindo erros de construção e correção. Em BIM é possível integrar todos os aspetos de um projeto, desde onde ficam localizadas as tubagens até à entrada de veículos de descarga em obra, para uma compreensão completa de como o material é entregue no local. Assim obtêm-se ganhos de eficiência e precisão, resultando em economias de tempo e recursos.
De que forma se apoiaram em tecnologia para desenvolver a estrutura da obra de São Bento?
A tecnologia desempenhou um papel importante no desenvolvimento da estrutura da obra de São Bento. Como referido acima, foi-nos fornecido pelo empreiteiro uma nuvem de pontos – conjunto de coordenadas tridimensionais que representam o edifício no espaço – que, ao importar para o nosso software, nos permitiu criar modelos digitais e precisos diretamente sobre a realidade existente. Este suporte digital foi particularmente importante pois tínhamos de lidar com um edifício histórico, com muitas camadas “escondidas”. A nuvem de pontos permitiu-nos capturar com precisão a geometria do edifício e criar modelos digitais que serviram como base para o nosso trabalho.
São uma das partes mais desenvolvidas do setor da construção ao nível da tecnologia, porquê? É uma questão de necessidade?
A utilização do BIM evoluiu significativamente na Seveme porque reconhecemos cedo as suas vantagens. Investimos na formação interna e adotamos o BIM como uma ferramenta essencial para o planeamento e a gestão de todas as empreitadas. Acreditamos que a modelação de informação da construção não é apenas uma tendência passageira, mas sim uma ferramenta indispensável na indústria da construção moderna.
A conjugação do vosso trabalho com outras atividades em obra que estão menos desenvolvidas é um processo complexo?
Todo o trabalho de levantamento de medidas numa obra é, por natureza, complexo. No entanto, quando todas as partes envolvidas fazem uso da tecnologia, indiscutivelmente facilita o processo. Imaginemos, por exemplo, o caso de dezenas de tubagens que não fazem parte do projeto original, mas que precisam estar em conformidade com a nossa estrutura. Na ausência de um modelo digital, o tempo despendido em modelação, tanto para nós como para a equipa responsável pelas tubagens, será consideravelmente maior, e as hipóteses de erro estão sempre presentes durante a execução da obra.
A integração de modelos BIM pode ser complexa, mas quando todas as partes envolvidas utilizam a tecnologia, o processo é facilitado. Infelizmente, a maioria das empresas não consegue ainda antecipar o impacto positivo de um investimento financeiro inicial maior em tecnologia BIM. No entanto, à medida que a tecnologia BIM se torna mais prevalente, a integração vai-se tornando menos complexa. Idealmente, queremos que todos os intervenientes de um projeto utilizem BIM para criar um ambiente verdadeiramente colaborativo e eficiente.
Como se consegue aumentar a utilização de uma forma transversal?
O governo e as entidades reguladoras têm um papel importante a desempenhar ao promover e exigir a adoção do BIM. Se as entidades reguladoras estabelecerem requisitos para a utilização do BIM em projetos de construção, a adoção pelo mercado subirá mais rapidamente. Alguns processos nos quais estamos envolvidos no estrangeiro, é já obrigatório gerir todo o projeto em BIM.
A Seveme tem facilidade em recrutar equipa que saiba trabalhar em BIM?
Encontrar pessoal experiente em BIM pode ser desafiante. No entanto, estamos comprometidos em desenvolver talento interno e investimos em formação contínua para a nossa equipa. A capacidade de trabalhar com tecnologia BIM é uma competência essencial na indústria da construção moderna, e reconhecemos a importância de cultivar essa competência internamente.
Falando do setor da construção como um todo, quais as maiores dificuldades atuais? E os maiores desafios?
O setor da construção enfrenta várias dificuldades, incluindo a falta de mão de obra qualificada, prazos apertados e variação nos preços das matérias-primas. A falta de mão de obra qualificada é um desafio significativo, e encontrar pessoas com experiência nestas tecnologias pode ser difícil. Além disso, os prazos apertados são uma constante na construção, e qualquer atraso pode ter consequências significativas em termos de custos e cronograma. A variação nos preços das matérias-primas, como o aço e o alumínio, também pode impactar os custos dos projetos e afetar a rentabilidade.
Olhando para os próximos anos, os maiores desafios, a meu ver, são dois: tornar a tecnologia BIM uma norma em toda a indústria e a retenção de pessoal qualificado. Embora o BIM se esteja a tornar cada vez mais prevalente, ainda há resistência à sua adoção. Convencer todas as partes interessadas da importância do BIM e garantir que seja amplamente utilizado é um desafio contínuo. Além disso, reter pessoal qualificado num mercado competitivo é crucial para o sucesso a longo prazo da nossa empresa.
Não há dúvida que a utilização transversal de ferramentas BIM melhora a eficiência, reduz custos e beneficia todos os envolvidos numa obra, desde o dono de obra, passando pelo empreiteiro e subempreiteiros, chegando posteriormente aos responsáveis de manutenção dos edifícios. Agora, há que continuar a promover a educação e a sensibilização sobre as vantagens do BIM de forma transversal no nosso setor.