Certificação ISO: Um Caminho para a Sustentabilidade Empresarial
#Àconversacom Catarina Raimundo / Percentil
Conquistar a certificação ISO é um feito desejado por muitas empresas. Catarina Raimundo, talentosa consultora e auditora da Percentil – empresa de consultoria, auditoria e formação nas áreas da Qualidade, Ambiente e Segurança e Saúde no Trabalho – possui uma vasta experiência neste campo, ajudando empresas a alcançarem os padrões de qualidade e sustentabilidade necessários. Neste #àconversacom mergulhamos no universo das normas ISO e descobrimos como funcionam, que desafios despertam e de que forma influenciam empresas e negócios no geral e em particular no mercado da construção civil. Venha descobrir connosco!
O que é a certificação ISO, e mais especificamente a ISO 9001 e ISO 14001?
A certificação ISO (International Organization for Standardization) não é mais do que um sistema de gestão, transversal à organização. É uma sistematização – ou harmonização – de práticas e procedimentos tendo em conta a experiência acumulada na colaboração com múltiplas empresas a nível mundial, devidamente adaptada às especificidades e regulamentações locais.
Este modelo de gestão visa impactar a forma como se gere a atividade, procurando obter procedimentos sistematizados entre todos os colaboradores e em todas as áreas de uma empresa, da produção ao marketing, passando pelas áreas administrativas, financeiras, de suporte, entre outras. Mais especificamente, a ISO 9001 estabelece os requisitos para garantir que uma organização seja capaz de fornecer produtos e serviços com qualidade, que atendam às necessidades e expectativas dos clientes, enquanto a ISO 14001 tem como principal desígnio a proteção ambiental, através do cumprimento dos objetivos ambientais, com vista à redução dos seus impactos, do cumprimento das obrigações de conformidade (cumprimento legal e normativo) e a melhoria do desempenho ambiental de uma forma geral.
Estas normas podem ser aplicadas a qualquer organização, independentemente da sua dimensão.
Mas como funcionam na prática, e em que consiste a implementação?
As normas baseiam-se numa uma abordagem por processo, exigindo que a organização que pretende obter a certificação identifique, documente, implemente e monitorize os processos que afetam a qualidade dos produtos, serviços e o ambiente.
Dando um exemplo muito prático, é identificada a necessidade de conhecer os consumos de combustível de máquinas em obra, para monitorizar e melhor gerir os recursos e também para assegurar que trabalham nas melhores condições, prevenindo fugas de combustível que poderão conduzir a uma possível contaminação de solos e linhas de água. Assim, não só essa necessidade deve ser conhecida pelos responsáveis e devidamente planeada, como deve ser monitorizada. Este é um exemplo de uma prática proposta em linha com a ISO 14001.
A implementação das normas é um trabalho multidisciplinar, com intervenientes internos e externos à empresa. Antes de mais, as normas ISO estão já definidas e estabelecem os requisitos necessários a uma certificação – requisitos estes que vão sendo atualizados periodicamente.
Baseado nestas normas, um consultor ISO (interno ou externo) define as práticas a implementar, atendendo aos requisitos das mesmas e às necessidades específicas da organização. Os princípios das normas têm de ser seguidos mesmo que resulte em práticas distintas de empresa para empresa. Aliás, em mais de 15 anos como consultora e auditora posso afirmar que não há experiências padrão. Cada sistema é único porque cada organização é única.
Depois de todo este trabalho, tipicamente passa-se por um processo de auditoria interna, fundamental para a avaliação do sistema de gestão implementado e para permitir melhorar e preparar para a auditoria externa.
O último passo consiste em avançar para a certificação (ex: ISO 9001 ou ISO 14001), certificação esta que é concedida por organismos de certificação independentes, que realizam auditorias não só para atribuição inicial, mas também com periodicidade anual, para verificar se a organização cumpre os requisitos das normas.
Este processo pode demorar meses ou anos até à certificação (depende da vontade da gestão de topo e dos recursos alocados) e requer sempre um trabalho de melhoria contínua.
Qual a relevância destas normas no mercado da construção civil?
São muito relevantes. Internamente, são um fator de sistematização e operacionalização de práticas e de otimização de recursos. Externamente, são um fator de distinção. Para grande parte dos concursos públicos relacionados com a construção, a certificação é um requisito. Em concursos privados, não sendo obrigatório, começa-se a assistir a algumas empresas considerarem a inexistência de certificação como um fator de exclusão. Por exemplo, não é possível obter a certificação BREEAM se o empreiteiro-geral não tiver a certificação ISO 14001. Podemos dizer que são um fator de paridade perante a concorrência.
E como se valorizam as empresas com um processo destes?
Pela minha experiência tendem a ser empresas mais robustas na adversidade e, que, em fases de crescimento económico, também o acompanham. A análise e revisão periódica do sistema de gestão de uma empresa ajuda-a a refletir sobre o contexto em que se insere e de como este a poderá influenciar, mitigando eventuais riscos/consequências adversas, atuando preventivamente.
São também empresas que se preocupam com os seus colaboradores, com o bem-estar do cliente, com o ambiente e com a comunidade que as rodeia. Acho que posso dizer que crescem na dimensão humana, à medida que o sistema ganha maturidade. Com as práticas e procedimentos em “velocidade cruzeiro”, têm agora outro tipo de preocupações: reduzir desperdício, a saúde física e mental dos seus colaboradores, o equilíbrio entre a vida profissional e familiar.
A integração dos princípios da ISO gera valor para as empresas e contribui para a sua sustentabilidade.
Quais são os principais desafios que as empresas enfrentam ao procurar a certificação ISO?
Desde logo, a falta de compromisso da gestão de topo. Há processos que podem levar anos se não houver vontade. O envolvimento dos colaboradores é igualmente importante, pois muitas vezes veem como algo que lhes complica a vida, que é mais burocrático – até porque há essa tradição antiga da ISO, mais burocrática – sendo, por isso, importante e consciencialização e formação. É muito importante esta sensibilização para que haja entusiasmo e para que vejam a mais-valia deste processo.
São também desafios o cumprimento da legislação, uma vez que nem todas as empresas têm recursos suficientes para aquilo que é exigido e as mudanças, internas e externas, que acabam por ter de acontecer e que tem consequências na empresa.
Como tem sido o processo de implementação na Beelt?
A Beelt já tem, de raiz, intenção de fazer bem, com diversas práticas sistematizadas. Essas práticas são para continuar, e serão parte do sistema de gestão da qualidade e do ambiente.
Se, como dito anteriormente, o compromisso da gestão de topo é tipicamente um desafio – sendo a certificação feita por pressão de clientes – na Beelt é o contrário! O processo de implementação das normas ISO tem revelado, por parte da Administração e Direção Geral, um grande comprometimento, incentivo e dinamismo. A gestão de topo tem sido, como desejado, o motor da implementação das normas. Há também uma grande abertura por parte dos colaboradores com quem tenho falado.
Noto na Beelt, perante os seus clientes, uma atitude de transparência, nomeadamente na comunicação do cumprimento de prazos, e uma vontade de querer fazer bem, distinguindo-se de outras empresas. A Beelt faz bem!
Acredito que a certificação será mais um passo em direção ao sucesso!