Construção de edifícios em madeira?
A construção civil tem um caminho grande pela frente a nível de sustentabilidade. Todos os dias se procuram novas alternativas, tanto a nível de materiais como de técnicas construtivas. Uma das tendências que está a ganhar força é a construção em madeira – mais especificamente construção em CLT (Cross Laminated Timber). Uma alternativa mais sustentável, considerada de menor impacto ambiental por ser renovável e estar na cadeia produtiva de absorção de dióxido de carbono pelas árvores. Além disso, a sua produção consome menos energia em comparação com materiais de construção convencionais, como o betão.
Não é novidade o uso da madeira como material, a grande inovação está na capacidade de construção em altura, havendo já diversos edifícios por todo o mundo com estrutura em madeira (por alternativa ao betão e ao aço). Os edifícios construídos com CLT podem chegar a várias dezenas de andares. Por exemplo, o edifício Mjøstårnet, na Noruega, foi concluído em 2018 e é atualmente o edifício de madeira mais alto do mundo, com 18 andares e 85,4 metros de altura. Outros exemplos incluem o edifício HoHo Vienna, na Áustria, com 24 andares, e o edifício Treet, na Noruega, com 14 andares. Em Portugal, existem apenas alguns projetos que utilizaram CLT em edifícios de múltiplos andares. Um exemplo notável é o edifício ‘Redbridge School’, localizado em Campo de Ourique, Lisboa, o mais alto edifício português construído maioritariamente em CLT.
O Cross Laminated Timber (CLT), também conhecido como madeira lamelada, é uma solução de madeira composta, geralmente feita a partir de painéis de madeira maciça dispostos em camadas cruzadas e coladas entre si. Normalmente, são utilizadas três, cinco ou sete camadas, dependendo das necessidades estruturais do projeto. Este material, pelo avanços tecnologia de fabricação e na compreensão das propriedades estruturais do mesmo, já permite substituir materiais tradicionais (betão e aço) na construção de edifícios de vários andares.
São diversas as vantagens da sua utilização:
- Rapidez de construção: O CLT é pré-fabricado off-site, o que permite uma construção mais rápida e eficiente no local. As peças de CLT são fabricadas com precisão, com cortes e furações personalizados, o que reduz a necessidade de trabalho de corte no local e acelera o processo de montagem.
- Resistência e desempenho estrutural: O CLT é projetado para ter alta resistência e desempenho estrutural. A sua construção em camadas cruzadas confere ao material uma excelente estabilidade dimensional, rigidez e capacidade de carga. O CLT pode ser usado para estruturas de paredes, pisos e tetos, e é capaz de suportar cargas pesadas e resistir a forças sísmicas.
- Isolamento térmico e acústico: O CLT possui propriedades naturais de isolamento térmico e acústico devido à sua estrutura em camadas de madeira maciça. Isto ajuda a reduzir a perda de calor e proporciona um ambiente interno confortável e com baixo consumo de energia. O CLT também pode ser combinado com isolamentos adicionais para melhorar ainda mais o desempenho térmico e acústico do edifício.
- Flexibilidade de design: O CLT oferece flexibilidade de design, permitindo a criação de espaços abertos e layouts personalizados. O material pode ser cortado em diferentes tamanhos e formas, facilitando a adaptação a uma variedade de projetos arquitetónicos. O CLT também pode ser usado em combinação com outros materiais para obter soluções de design híbridas.
- Resistência ao fogo: O CLT possui boa resistência ao fogo devido à sua resposta previsível quando exposto a altas temperaturas. À medida que a camada externa é carbonizada, ela atua como uma proteção térmica, retardando a propagação do fogo e mantendo a estabilidade estrutural do material.
No entanto, é importante considerar que cada projeto tem suas particularidades e requisitos específicos, e é necessário avaliar cuidadosamente se o CLT é apropriado para as necessidades e restrições do projeto em questão.
A nível de sustentabilidade, são também várias as razões que tornam o CLT uma solução a escolher:
- É uma fonte renovável: O CLT é feito principalmente de madeira, que é uma fonte renovável e naturalmente regenerável. A madeira utilizada no CLT provém de florestas geridas de forma sustentável, onde novas árvores são plantadas para substituir as colhidas, garantindo a sua continuidade.
- Absorve carbono: Durante o crescimento, as árvores absorvem dióxido de carbono (CO2) da atmosfera e armazenam-no nas suas fibras. Quando a madeira é usada no CLT, esse carbono permanece armazenado por toda a vida útil do material, reduzindo as emissões de CO2 na atmosfera, e ajudando a diminuir a pegada de carbono de um edifício.
- Tem baixo consumo energético: A produção de CLT requer menos energia em comparação com a produção de outros materiais de construção. Além disso, o processo de fabricação do CLT geralmente ocorre em fábricas, o que permite um maior controle de qualidade e uma melhor eficiência energética em comparação com a construção in situ.
- Menor impacto ambiental: O CLT pode ser fabricado com menos desperdício de materiais em comparação com outros sistemas construtivos. Além disso, o seu processo de fabricação gera menos emissões de gases de efeito estufa e poluentes atmosféricos em comparação com a produção de concreto.
- Permite a construção seca: Para além das vantagens na fabricação (tempos, desperdícios e eficiência), o método construtivo do CLT é “seco”, o que significa que não necessita de utilizar argamassa ou cimento molhado, reduzindo a utilização de água, e desta forma contribuindo para a conservação dos recursos hídricos.
- Ciclo de vida sustentável: O CLT é durável e pode ter uma vida útil longa. Quando um edifício de CLT chega ao fim da sua vida útil, o material pode ser reaproveitado, reciclado ou utilizado para a produção de energia, contribuindo para a economia circular e minimizando o desperdício.
É importante ressalvar que, embora o CLT seja um material de construção sustentável, é necessário considerar a origem da madeira utilizada, preferindo-se fontes certificadas de gestão florestal sustentável, como o selo FSC (Forest Stewardship Council) ou PEFC (Programme for the Endorsement of Forest Certification). Além disso, é fundamental seguir as melhores práticas de construção e considerar o projeto e a eficiência energética global do edifício para maximizar seus benefícios sustentáveis.
Apesar de todas as vantagens económicas e ambientais mencionadas, ainda se usa CLT em pequena escala. Por um lado, esta é uma tecnologia relativamente nova em comparação com materiais de construção tradicionais, e a falta de conhecimento pode levar à resistência ou falta de confiança na adoção deste material por parte de profissionais da construção e proprietários de projetos. A indústria da construção tende a ser conservadora e resistente à adoção de novas tecnologias e materiais, sendo que a tradição e a familiaridade com os materiais de construção convencionais podem dificultar a aceitação e a adoção generalizada do CLT. E isto se junta uma possível percepção de custo inicial mais elevado em comparação com os materiais tradicionais, apensar de o CLT poder oferecer poupanças em termos de tempo e mão de obra durante a construção. Por outro lado, é importante ter em conta as limitações não só a nível de regulamentações e códigos de construção, sendo que a falta de orientações claras ou a necessidade de adaptações nos códigos de construção podem ser obstáculos para a utilização mais difundida deste material, bem como a nível limitação de capacidade de produção e oferta, havendo ainda pouca capacidade de responder à procura em muitos países ou zonas.
Tem havido maior procura na construção de edifícios usando CLT, mas há ainda um longo caminho a percorrer. A Beelt está empenhada na redução do impacto ambiental da indústria em todas as fases do ciclo de vida dos edifícios, assumindo a responsabilidade da divulgação de soluções mais eficientes.