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Os grandes desafios da construção em Portugal

Construção: problema da falta de mão de obra “tenderá a agravar-se”

A crise na habitação em Portugal levou o Governo a lançar um pacote de medidas para combater a falta de oferta: seja para comprar ou arrendar, o país precisa de mais casas (e de forma mais rápida). O setor da construção tem, por isso, um papel determinante neste contexto, mas continua a debater-se com vários problemas, há já vários anos. Além da subida dos custos – alavancada pelo aumento da inflação – este segmento debate-se com a falta de mão de obra e dificuldades em atrair novas pessoas, tal como explica Bernardo Soares Coelho, diretor geral da Beelt, em entrevista ao idealista/news. O licenciamento, sem surpresas, é outro obstáculo.

No rescaldo da pandemia, e com o estalar da guerra, o mundo assistiu ao disparar dos preços dos materiais e das matérias-primas, um cenário que, até ao momento, não voltou a estabilizar-se, fruto, também, da escalada inflacionista. E estes aumentos refletem-se no preço final a pagar pelos portugueses que desejam comprar casa.

“Vemos este novo nível de preços como uma nova realidade que veio para ficar. Haverá com certeza acertos, mas a verdade é que se estendeu a todo o ciclo económico e de forma persistente”, confirma o responsável da Beelt, empresa de construção civil especializada em construção e reabilitação. “Logicamente, que juntamente com níveis de procura muito elevados por casas, a influência nos preços finais das casas é notória”, acrescenta.

A falta de mão de obra é outro fator que continua a condicionar o setor e o mercado em geral. Na opinião de Bernardo Soares Coelho, o “problema terá tendência a agravar-se pois, para além de haver falta de recursos, é uma indústria que tem muitas dificuldades em atrair novas pessoas”. “Isto deve-se em grande parte dos casos, às condições de trabalho não serem atrativas”, explica.

Nesta entrevista escrita que agora reproduzimos na íntegra, o responsável da Beelt reflete ainda sobre os grandes desafios da construção em Portugal, deixando pistas sobre o que que é mais urgente fazer/mudar para aumentar a produtividade e a atratividade do setor.

Quem é a Beelt e a que tipo de projetos se dedica? Mais construção ou reabilitação?

A Beelt é uma empresa de construção, que desenvolve a sua atividade há mais de 10 anos, e atua equitativamente nos mercados de reabilitação e construção de raiz.

Em que tipo de projetos estão a trabalhar neste momento? E onde?

A Beelt encontra-se neste momento a trabalhar maioritariamente em projetos residenciais nas vertentes de reabilitação e da construção de raiz, com grande enfoque no centro de Lisboa e também no Algarve, zona onde, aliás, pretende crescer.

Em carteira estão projetos para iniciar no decorrer do próximo ano, que para além do aumento significativo da dimensão de obra passarão também a englobar o desenvolvimento de outros segmentos de mercado.

São direcionados para que tipo de segmentos e mercados?

Os projetos em desenvolvimento são maioritariamente para o segmento residencial, no qual temos equipas com muita experiência e também um enorme leque de parceiros que nos acompanham há muito tempo.

Os custos de construção e falta de mão de obra são um problema no setor. Como é que a Beelt tem lidado com estas questões? Têm-se refletido nos preços finais das obras e das casas?

A Beelt lida naturalmente com preocupação a estes temas, porque condicionam de forma efetiva o nosso setor e o mercado em geral.

O problema da falta de mão de obra é de enorme relevância para o país, para as pessoas e para a indústria. Entendemos que o problema terá tendência a agravar-se pois, para além de haver falta de recursos, é uma indústria que tem muitas dificuldades em atrair novas pessoas. Isto deve-se em grande parte dos casos, às condições de trabalho não serem atrativas, comparando com outros setores que podem contratar o mesmo perfil de recursos. Isto é um problema transversal ao sector que se verifica em toda a linha, das posições com menor formação às com maior formação.

Relativamente ao aumento dos custos de construção, o primeiro agravamento dá-se em período pandémico, devido às restrições económicas, entrando posteriormente num período inflacionista onde os preços não voltaram a estabilizar. A nossa perspetiva é menos positiva e vemos este novo nível de preços como uma nova realidade que veio para ficar. Haverá com certeza acertos, mas a verdade é que se estendeu a todo o ciclo económico e de forma persistente. Podíamos ver um aumento significativo nas margens das empresas, mas não é isso que se tem verificado.

Logicamente que juntamente com níveis de procura muito elevados por casas, a influência nos preços finais das casas é notória.

Qual é o grande desafio da construção em Portugal?

O grande desafio, penso passar por uma maior industrialização dos processos, de forma a que, com maior eficiência de recursos, se construa melhor, mais rápido e com melhores condições para todos os intervenientes. A construção offsite, com a devida preparação associada, traz grandes vantagens aos processos construtivos.

Apesar da mudança estar a começar a acontecer, o setor revela-se lento porque é maioritariamente alanvancado por empresas de pequena escala e com pouca capacidade de investimento neste campo, ao invés das empresas de maior dimensão, onde este tema está já na ordem do dia há bastante tempo.

De que é que o setor precisa para construir mais? O que é mais urgente fazer/mudar?

O problema começa na incerteza inerente ao licenciamento. As empresas de construção são contratadas por promotores, que estão dependentes das Câmaras Municipais e de uma série de outras entidades para verem os seus projetos licenciados.

Como a incerteza relativamente aos prazos de licenciamento é total, as empresas de construção têm muitas dificuldades em fazer um planeamento adequado e eficiente do seu trabalho. Isto representa um enorme custo para as empresas, pois, para além do custo de oportunidade, representa custos efetivos de recursos alocados a projetos que muitas vezes demoram, em alguns casos, mais seis meses ou um ano a iniciar do que inicialmente tinha sido previsto.

Por outro lado, como já tive oportunidade de referir, o setor neste momento tem muita dificuldade em captar recursos pois a atratividade está a baixar e confronta-se com todas as ineficiências relativas ao mercado laboral em Portugal. Necessitamos de aumentar a competitividade e procurar esbater o diferencial grande que existe entre o que as empresas despendem com os colaboradores e o que estes efetivamente recebem. Não devemos continuar a premiar a ineficiência procurando tornar o mercado mais dinâmico.

Por último, o próprio setor terá de se reinventar para aumentar a produtividade e a atratividade, caso contrário, o cenário terá tendência a piorar.

 

Veja o artigo publicado em Idealista News

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